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Explorando a Rinotraqueíte Viral Felina: Compreendendo Aspectos Essenciais da Doença.

Escrito por Luan Stefani

10 JUL 2024 - 22H05 (Atualizada em 12 JUL 2024 - 18H33)

Quais são as causas e as principais características da rinotraqueíte felina?

A rinotraqueíte felina é causada pelo herpesvírus felino-1 (FHV-1). Este vírus pertence a uma família de vírus que possuem DNA de fita dupla e um ciclo de replicação curto, resultando em uma rápida disseminação e induzindo a lise das células infectadas. Após a exposição, mais de 80% dos gatos se tornam persistentemente infectados, pois o vírus permanece nos gânglios sensoriais dos hospedeiros.

Muitos desses gatos, quando submetidos a estresses naturais ou corticoterapia, eliminam o vírus espontaneamente e podem desenvolver doenças oculares em diferentes estágios da vida. O FHV-1 tem uma distribuição mundial e uma alta taxa de exposição em várias populações de gatos. Embora os gatos sejam os principais hospedeiros do FHV-1, o vírus também foi identificado em chitas, leões e pumas, mas ainda não há evidências de infecção em seres humanos.

Como ocorre o processo de infecção e desenvolvimento da doença?

A infecção pelo herpesvírus felino-1 (FHV-1) inicia-se quando o vírus entra no corpo do hospedeiro através do nariz, boca ou conjuntiva. O ponto de entrada é geralmente o epitélio, onde o vírus começa a se replicar. A partir do epitélio, o FHV-1 pode se espalhar para a conjuntiva e para o trato respiratório superior, incluindo o nariz, garganta e traqueia. Em alguns casos, a infecção pode se estender ao trato respiratório inferior, afetando os pulmões.

Após a infecção inicial, a fase contagiosa do vírus começa aproximadamente 24 horas depois da exposição e pode durar até três semanas. Durante esse período, o vírus é altamente transmissível e pode causar uma variedade de sintomas respiratórios, incluindo espirros, coriza e conjuntivite. Lesões podem se desenvolver no trato respiratório superior e nos tecidos oculares, resultando em secreção ocular e inflamação. Infecções secundárias bacterianas são comuns durante este período, tornando as secreções purulentas e exacerbando os sintomas respiratórios e oculares.

Depois do período agudo de infecção, o vírus se dissemina através dos nervos sensoriais, particularmente os gânglios trigeminais, onde entra em um estado de latência. Durante este estado latente, o vírus permanece inativo, escondido nas células nervosas do hospedeiro. No entanto, o FHV-1 pode ser reativado em situações de estresse, como durante a corticoterapia ou outras condições imunossupressoras.

Quando o vírus é reativado, ele pode se replicar novamente e causar sintomas semelhantes aos da infecção inicial. Esta reativação viral pode resultar em lesões crônicas nos tecidos oculares, como ceratite (inflamação da córnea) e conjuntivite recorrente. Além disso, o vírus pode continuar a afetar o trato respiratório, causando sintomas respiratórios crônicos ou recorrentes.

A capacidade do FHV-1 de permanecer latente e de ser reativado posteriormente faz com que a rinotraqueíte felina seja uma doença de longo prazo, com potencial para episódios recorrentes ao longo da vida do gato. A disseminação do vírus é facilitada pela proximidade entre gatos, especialmente em ambientes como abrigos e lares com múltiplos gatos, contribuindo para a alta taxa de exposição e infecção observada mundialmente.

Métodos de diagnóstico e tratamento da rinotraqueíte felina

Para detectar o vírus da rinotraqueíte felina (FHV-1), o método de diagnóstico mais eficaz é a PCR (reação em cadeia da polimerase) realizada em amostras biológicas. Essas amostras podem ser coletadas através de esfregaços da cavidade oral e córnea, sangue ou biópsias. A PCR é uma técnica sensível que amplifica o material genético do vírus, permitindo a detecção mesmo em pequenas quantidades. No entanto, é importante destacar que um resultado positivo na PCR pode ser devido à baixa eliminação viral de um estado de latência e não necessariamente a uma infecção ativa ou relacionada aos sintomas presentes no paciente.

A PCR em tempo real (qPCR) é uma variante da PCR que pode fornecer resultados mais precisos e rápidos, permitindo quantificar a carga viral e distinguir entre infecção ativa e latente. A qPCR pode ser particularmente útil para monitorar a resposta ao tratamento e a progressão da doença.

Outra forma de diagnóstico é a detecção de anticorpos contra o FHV-1. No entanto, devido à alta prevalência de infecções naturais e à vacinação, a soroprevalência é elevada na população felina. Além disso, os testes sorológicos não conseguem distinguir entre animais infectados e vacinados, limitando sua utilidade como exame complementar em comparação com a PCR.

Durante a infecção, o tratamento de suporte é crucial para ajudar o animal a se recuperar. Isso inclui fluidoterapia para manter a hidratação, especialmente em gatos que não estão bebendo adequadamente devido às lesões na cavidade oral. O uso de alimentos super palatáveis pode estimular o apetite, mas em casos graves de anorexia, pode ser necessário utilizar um tubo para alimentação para garantir que o gato receba nutrição adequada.

Para prevenir infecções secundárias, a antibioticoterapia é frequentemente utilizada durante a fase aguda da doença. Infecções bacterianas secundárias podem complicar a rinotraqueíte felina, resultando em secreções purulentas e exacerbando os sintomas respiratórios e oculares.

Há também uma discussão contínua sobre a utilidade do uso de terapia antiviral. Alguns antivirais podem ser eficazes na redução da replicação do FHV-1, mas seu uso é geralmente reservado para casos graves ou crônicos, devido aos potenciais efeitos colaterais e à necessidade de monitoramento rigoroso

Proteção contra a infecção por FHV-1 e a importância da vacinação

Enquanto o animal ainda possui imunidade passiva adquirida através do colostro materno, ele está protegido contra a infecção por aproximadamente 6 a 10 semanas. Após esse período, é recomendado que todos os gatos sejam vacinados contra o FHV-1, pois essa doença pode induzir condições graves e até fatais. Além disso, infecções naturais não resultam em imunidades sólidas.

As vacinas podem não ser eficazes em animais com a função imunológica comprometida, como aqueles com deficiência nutricional, imunodeficiência induzida por vírus, estresse prolongado ou sob terapias imunossupressoras. Em geral, a resposta imunológica induzida pela vacinação protege contra a evolução sintomática da doença, mas não contra a infecção em si e sintomas leves.

Além da vacinação, é crucial implementar medidas de controle, especialmente em abrigos onde o herpesvírus felino é comum. Ao introduzir novos gatos potencialmente infectados, é essencial realizar uma quarentena individual por um período de duas semanas. O manejo dos animais deve ser feito de maneira a evitar a contaminação cruzada através de fômites.

Outro ambiente preocupante para a disseminação da doença são os gatis, onde há filhotes em idade suscetível e mães que muitas vezes são portadoras persistentes da doença em fase latente. Após a lactação, o vírus pode ser reativado e infectar os filhotes. Portanto, é aconselhável vacinar os gatos antes do acasalamento, já que o uso da vacina não é licenciado para gatas prenhas.

REFERÊNCIAS:

1. BINNS, S. H., et al. A study of feline upper respiratory tract disease with reference to prevalence and risk factors for infection with feline calicivirus and feline herpesvirus. Journal of feline medicine and surgery, 2000, 2.3: 123-133.

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3. THOMASY, Sara M.; MAGGS, David J. A review of antiviral drugs and other compounds with activity against feline herpesvirus type 1. Veterinary ophthalmology, 2016, 19: 119-130.

4. GOULD, David. Feline herpesvirus-1: ocular manifestations, diagnosis and treatment options. Journal of feline medicine and surgery, 2011, 13.5: 333-346.

5. MONNE RODRIGUEZ, Josep Maria, et al. Feline herpesvirus pneumonia: investigations into the pathogenesis. Veterinary pathology, 2017, 54.6: 922-932.

6. QUIMBY, Jessica M., et al. Evaluation of the association of Bartonella species, feline herpesvirus 1, feline calicivirus, feline leukemia virus and feline immunodeficiency virus with chronic feline gingivostomatitis. Journal of feline medicine and surgery, 2008, 10.1: 66-72.

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