Quais são as causas e as principais características da rinotraqueíte felina?
A rinotraqueíte felina é causada pelo herpesvírus felino-1 (FHV-1). Este vírus pertence a uma família de vírus que possuem DNA de fita dupla e um ciclo de replicação curto, resultando em uma rápida disseminação e induzindo a lise das células infectadas. Após a exposição, mais de 80% dos gatos se tornam persistentemente infectados, pois o vírus permanece nos gânglios sensoriais dos hospedeiros.
Muitos desses gatos, quando submetidos a estresses naturais ou corticoterapia, eliminam o vírus espontaneamente e podem desenvolver doenças oculares em diferentes estágios da vida. O FHV-1 tem uma distribuição mundial e uma alta taxa de exposição em várias populações de gatos. Embora os gatos sejam os principais hospedeiros do FHV-1, o vírus também foi identificado em chitas, leões e pumas, mas ainda não há evidências de infecção em seres humanos.
Como ocorre o processo de infecção e desenvolvimento da doença?
A infecção pelo herpesvírus felino-1 (FHV-1) inicia-se quando o vírus entra no corpo do hospedeiro através do nariz, boca ou conjuntiva. O ponto de entrada é geralmente o epitélio, onde o vírus começa a se replicar. A partir do epitélio, o FHV-1 pode se espalhar para a conjuntiva e para o trato respiratório superior, incluindo o nariz, garganta e traqueia. Em alguns casos, a infecção pode se estender ao trato respiratório inferior, afetando os pulmões.
Após a infecção inicial, a fase contagiosa do vírus começa aproximadamente 24 horas depois da exposição e pode durar até três semanas. Durante esse período, o vírus é altamente transmissível e pode causar uma variedade de sintomas respiratórios, incluindo espirros, coriza e conjuntivite. Lesões podem se desenvolver no trato respiratório superior e nos tecidos oculares, resultando em secreção ocular e inflamação. Infecções secundárias bacterianas são comuns durante este período, tornando as secreções purulentas e exacerbando os sintomas respiratórios e oculares.
Depois do período agudo de infecção, o vírus se dissemina através dos nervos sensoriais, particularmente os gânglios trigeminais, onde entra em um estado de latência. Durante este estado latente, o vírus permanece inativo, escondido nas células nervosas do hospedeiro. No entanto, o FHV-1 pode ser reativado em situações de estresse, como durante a corticoterapia ou outras condições imunossupressoras.
Quando o vírus é reativado, ele pode se replicar novamente e causar sintomas semelhantes aos da infecção inicial. Esta reativação viral pode resultar em lesões crônicas nos tecidos oculares, como ceratite (inflamação da córnea) e conjuntivite recorrente. Além disso, o vírus pode continuar a afetar o trato respiratório, causando sintomas respiratórios crônicos ou recorrentes.
A capacidade do FHV-1 de permanecer latente e de ser reativado posteriormente faz com que a rinotraqueíte felina seja uma doença de longo prazo, com potencial para episódios recorrentes ao longo da vida do gato. A disseminação do vírus é facilitada pela proximidade entre gatos, especialmente em ambientes como abrigos e lares com múltiplos gatos, contribuindo para a alta taxa de exposição e infecção observada mundialmente.
Métodos de diagnóstico e tratamento da rinotraqueíte felina
Para detectar o vírus da rinotraqueíte felina (FHV-1), o método de diagnóstico mais eficaz é a PCR (reação em cadeia da polimerase) realizada em amostras biológicas. Essas amostras podem ser coletadas através de esfregaços da cavidade oral e córnea, sangue ou biópsias. A PCR é uma técnica sensível que amplifica o material genético do vírus, permitindo a detecção mesmo em pequenas quantidades. No entanto, é importante destacar que um resultado positivo na PCR pode ser devido à baixa eliminação viral de um estado de latência e não necessariamente a uma infecção ativa ou relacionada aos sintomas presentes no paciente.
A PCR em tempo real (qPCR) é uma variante da PCR que pode fornecer resultados mais precisos e rápidos, permitindo quantificar a carga viral e distinguir entre infecção ativa e latente. A qPCR pode ser particularmente útil para monitorar a resposta ao tratamento e a progressão da doença.
Outra forma de diagnóstico é a detecção de anticorpos contra o FHV-1. No entanto, devido à alta prevalência de infecções naturais e à vacinação, a soroprevalência é elevada na população felina. Além disso, os testes sorológicos não conseguem distinguir entre animais infectados e vacinados, limitando sua utilidade como exame complementar em comparação com a PCR.
Durante a infecção, o tratamento de suporte é crucial para ajudar o animal a se recuperar. Isso inclui fluidoterapia para manter a hidratação, especialmente em gatos que não estão bebendo adequadamente devido às lesões na cavidade oral. O uso de alimentos super palatáveis pode estimular o apetite, mas em casos graves de anorexia, pode ser necessário utilizar um tubo para alimentação para garantir que o gato receba nutrição adequada.
Para prevenir infecções secundárias, a antibioticoterapia é frequentemente utilizada durante a fase aguda da doença. Infecções bacterianas secundárias podem complicar a rinotraqueíte felina, resultando em secreções purulentas e exacerbando os sintomas respiratórios e oculares.
Há também uma discussão contínua sobre a utilidade do uso de terapia antiviral. Alguns antivirais podem ser eficazes na redução da replicação do FHV-1, mas seu uso é geralmente reservado para casos graves ou crônicos, devido aos potenciais efeitos colaterais e à necessidade de monitoramento rigoroso
Proteção contra a infecção por FHV-1 e a importância da vacinação
Enquanto o animal ainda possui imunidade passiva adquirida através do colostro materno, ele está protegido contra a infecção por aproximadamente 6 a 10 semanas. Após esse período, é recomendado que todos os gatos sejam vacinados contra o FHV-1, pois essa doença pode induzir condições graves e até fatais. Além disso, infecções naturais não resultam em imunidades sólidas.
As vacinas podem não ser eficazes em animais com a função imunológica comprometida, como aqueles com deficiência nutricional, imunodeficiência induzida por vírus, estresse prolongado ou sob terapias imunossupressoras. Em geral, a resposta imunológica induzida pela vacinação protege contra a evolução sintomática da doença, mas não contra a infecção em si e sintomas leves.
Além da vacinação, é crucial implementar medidas de controle, especialmente em abrigos onde o herpesvírus felino é comum. Ao introduzir novos gatos potencialmente infectados, é essencial realizar uma quarentena individual por um período de duas semanas. O manejo dos animais deve ser feito de maneira a evitar a contaminação cruzada através de fômites.
Outro ambiente preocupante para a disseminação da doença são os gatis, onde há filhotes em idade suscetível e mães que muitas vezes são portadoras persistentes da doença em fase latente. Após a lactação, o vírus pode ser reativado e infectar os filhotes. Portanto, é aconselhável vacinar os gatos antes do acasalamento, já que o uso da vacina não é licenciado para gatas prenhas.
REFERÊNCIAS:
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