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Desvendando o Mistério da Clamidiose Felina: Conheça os Perigos da Bactéria Chlamydia felis

Escrito por Luan Stefani

12 JUN 2024 - 10H06 (Atualizada em 12 JUN 2024 - 10H12)




Bom, primeiramente vamos tentar entender quem é o agente causador dessa doença tão temida pelos gatinhos e pelos seus tutores. Você já ouviu falar da Chlamydia felis?

A Chlamydia felis é uma bactéria gram-negativa descrita em 1942, e inicialmente associada apenas às doenças respiratórias felinas. No entanto, em 1950 a sua importância como agente causador de conjuntivite em gatos foi reconhecida. Esse microrganismo é caracterizado por uma membrana contendo lipopolissacarídeos/endotoxinas (LPS). Em termos de morfologia, as Chlamydias apresentam-se como cocos, com um diâmetro médio de 0,2 a 0,4 µm. No ciclo celular, essas bactérias infectam células eucarióticas sob a forma de pequenos corpos elementares. Posteriormente, após adentrarem o ambiente intracelular, transformam-se em corpos reticulares não infecciosos, responsáveis pela sua replicação. Após múltiplas divisões, os corpos reticulares convertem-se novamente em corpos elementares, os quais são liberados pela célula hospedeira, possibilitando a infecção de outras células adjacentes.

Mas só a Chlamydia felis felis tem importância para a saúde dos felinos? E para a nossa saúde? Também podemos ser acometidos?

Dentro do gênero das Chlamydias, que compreende um total de 18 espécies distintas, há um foco especial em quatro delas devido ao seu potencial zoonótico - isto é, sua capacidade de infectar tanto animais quanto seres humanos. Entre essas, destacam-se a C. psittaci, reconhecida como o principal agente infeccioso em aves; C. abortus, frequentemente associada a infecções em ruminantes; e C. pneumoniae, comumente encontrada em humanos. Essas espécies, além de seu potencial zoonótico, também foram observadas infectando gatos domésticos, apesar de não serem seus hospedeiros preferenciais. A C. felis demonstra uma maior especificidade de hospedeiro quando comparada com essas outras espécies, mesmo assim é observado infecção em cães, com maior importância como hospedeiro reservatório.

E quando devemos dar mais atenção aos gatinhos? Quais são e em que momento os primeiros sintomas aparecem?

Estudos epidemiológicos sobre a C. felis revelam que a presença deste agente é baixa em hospedeiros saudáveis. No entanto, quando os gatos exibem sinais clínicos, especialmente respiratórios e oculares, a incidência dessa bactéria sobe para 37.1%, evidenciando sua relevância na prática clínica felina. Foi observado que o microrganismo tem uma taxa de sobrevivência limitada no ambiente, e devido a isso, a sua transmissão ocorre principalmente pelo contato direto com as secreções oculares e nasais de portadores da doença. Ambientes com múltiplos gatos, como gatis e abrigos, são mais propensos à infecção devido a maior densidade populacional, o que facilita os contatos entre os animais. Além disso, nesses locais a presença de gatos com menos de um ano é mais comum, e estes são mais suscetíveis à infecção, especialmente durante o período de perda da imunidade passiva conferida pelas imunoglobulinas maternas.

A bactéria C.felis, após a infecção, apresenta um período de incubação de 2 a 5 dias. Devido ao seu alvo tecidual ser as mucosas, principalmente a conjuntiva, uma das primeiras manifestações clínicas é o comprometimento ocular unilateral que geralmente tende a progredir para um comprometimento bilateral. Podendo ser observado hiperemia da membrana nictitante, blefaroespasmo, quemose e inicialmente um secreção ocular mais aquosa e conforme a progressão da doença uma evolução para um secreção mucopurulenta. Além disso, devido ao envolvimento do trato respiratório superior, os sinais clínicos respiratórios podem ser leves, embora, quando combinados com herpesvírus felino-1 e calicivírus felino, os animais possam desenvolver a doença do trato respiratório superior (DTRS), caracterizada por espirros intensos, corrimento nasal e letargia. Se a infecção não se tornar persistente, a fase infecciosa normalmente termina após 60 dias.

E como realizar o diagnóstico? Quais exames complementares solicitar?

Como o acometimento do trato respiratório superior e da conjuntiva ocular não é exclusivo da C.felis, como vimos na DTRS, métodos de diagnósticos laboratoriais são de extrema importância para a realização do diagnóstico diferencial devido sua grande precisão. A utilização de técnicas como a reação em cadeia da polimerase (PCR) são preferidas para o diagnóstico da infecção, mas além dessa técnica também estão presentes o uso de ELISA e sorologia para detecção de anticorpos quando os gatos não foram vacinados para não resultar em um falso postivo.

Se os resultados forem positivos, como prosseguir?

A infecção por C. felis em gatos geralmente é tratada com antibióticos de tetraciclina, administrados sistemicamente em vez de tópicos, devido à sua maior eficácia no combate à infecção, que pode afetar mais do que apenas a região ocular. A administração oral de doxiciclina por um período de 4 semanas é altamente eficaz na resolução clínica na maioria dos gatos. Em casos de animais com contato, pode ser necessário estender esse período de tratamento para 6 a 8 semanas, o importante é que após a resolução dos sinais clínicos continue o uso por mais duas semanas para evitar recorrências da infecção. Se o uso de tetraciclinas causar efeitos colaterais no gato em tratamento, outros antibióticos podem ser utilizados, incluindo a associação de ácido clavulânico com amoxicilina, por aproximadamente 4 semanas também.

É sempre importante ressaltar a relevância do correto tempo de amamentação dos gatinhos, para a passagem dos anticorpos maternos; a higienização correta e o isolamento adequado dos animais portadores da doença e a vacinação, que atualmente é tratada como não essencial. Além disso, deve-se salientar que a vacina não previne 100% a infecção, mas sim atua na redução da gravidade da doença.

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